A última vez que aqui escrevi algo (mais de três anos atrás) não pensava por certo um vir a participar e concluir uma ultra maratona como é a "caminhos do Tejo", uma organização do outro mundo que aconselho vivamente aos meus amigos e a todos os que gostem destas maluqueiras das ultra.
Propus-me a fazer esta prova na companhia do meu cunhado e amigo José Silva e quando o fiz sabia perfeitamente que iria ser mais uma daquelas aventuras que jamais se esquecem passem os anos que passem.
A Partida estava marcada para as 21horas do dia feriado de Santo António o que logo à partida não beneficiava a malta que deu aso a sua euforia na noite lisboeta e com esse espírito lá fomos em amena cavaqueira em direção ao primeiro abastecimento em Vila Franca de Xira. O ritmo ia alto dizia-me o Zé mas lá fomos na cauda do grupo e como este não abrandava começamos mesmo a ficar para trás de tal forma que temi não voltar a ver mais nenhum daqueles companheiros mas o nosso objetivo era terminar e não podíamos deitar tudo a perder logo no inicio, baixamos ainda mais o ritmo fomos mesmo alguns bocados a passo para estabilizar, chegados ao abastecimento paragem de 15 minutos e quando dei por nós estávamos já a correr em bom ritmo.
A noite foi passada na lezíria, alcatrão e campos de tomate e quando o dia começava a nascer chegamos aos 60km abastecimento em Valada, 20 minutos a descansar, o meu companheiro aproveitou para fazer uma reconfortante massagem e até Santarém foi quase sempre a correr ou em marcha forçada. Chegados ás portas do sol estávamos agora com 84km, o calor começava a fazer-se sentir, entre uma fatia de pizza e uma preta gelada ia conversando com outros companheiros de jornada o Silva esse lá estava novamente nas massagens e se a primeira lhe fez bem a segunda foi uma lufada de energia para enfrentar a parte mais dura da prova. A próxima paragem era em santos cerca de 20km depois, o terreno tinha agora muito sobe e desce e a temperatura a subir para próximo dos 40 graus agora correr apenas nas descidas e nas mais pronunciadas era aproveitar todas as fontes para refrescar e encher água que uns minutos depois já escaldava.
Chegamos a Santos (104 km) por volta das12.30, tudo bem comer e hidratar, o corpo estava perfeito sem dores e a aguentar-se com a temperatura embora a organização ponderasse por fim à prova devido ao elevado risco para os atletas e depois de uma conversa telefónica com a responsável lá continuamos, prometendo à Margarida que teríamos muito cuidado e de outra forma não poderia ser tão adversas eram as condições. Haviam por esta altura relatos de atletas perdidos outros em mau estado e serem obrigados a desistir mas nós lá seguimos sabíamos perfeitamente como agir esquecendo por completo objetivos mas foi sem dúvida a parte mais dura, o calor apertava e os pontos de água não abundavam e chegar a Olhos de água onde o abastecimento é junto a uma praia fluvial era por agora a meta.
Foram sem dúvida mergulhos reconfortantes mas urgia partir em direção a Covão do feto e daí enfrentar a subida da serra de Aire e respetiva descida logo ali estava Minde o último abastecimento faltavam ainda cerca de 17km duros mas o tempo estava mais fresco o que era uma vantagem. Partimos para a derradeira etapa por volta das 18.20 não fazia contas tinha que ver como é que o corpo reagia aquela ansiedade final e lá fomos com calma a subir, tivemos um pequeno engano rapidamente corrigido e entretanto faltavam dez km e íamos começar a descer. O Eduardo apareceu no trilho com água e uma menina com um borrifador, que bem que soube foi o mote para fazer os últimos 10 km. Andamos num bom ritmo e Fátima estava já ali os dois km finais foram feitos em 9 minutos, e lá estava ela a meta 23h:55min para os 145km da prova 9 e 10º classificados.
Para terminar quero apenas frisar que esta prova foi sem dúvida uma das melhores aventuras que vivi com um companheiro de muitas outras ao qual eu agradeço o facto de me ter aturado aquelas quase 24horas, para a organização um agradecimento pela qualidade dos abastecimentos pela simpatia e profissionalismo, prometo voltar.
Na verdade este foi e será sempre recordado como um ano especial, pela primeira vez corri no estrangeiro e logo por duas vezes e melhor ainda chego ao fim do ano com três Maratonas nas pernas o que para quem fazia uma e era a custo é algo de grandioso.